quarta-feira, 5 de março de 2014

Filosofias de chuva

Respingos na face multicor da flor distante,
Um afago nos cabelos infantes,
Cócegas na barba de um transeunte qualquer,
A confusão na superfície vítrea das lentes.

Dois segundos e o murmúrio do telhado compõe a sinfonia que embala os sonhos.
Os planos se molham e se desfazem na linha do tempo - ê, chuva.
(Des)monta,
(Des)mente,
(Des)faz.

Céu e terra a unir-se pelo sabor molhado das gotas frias,
As lágrimas das nuvens embebedam o chão quente, sedento, marcado.
A precipitação entalha o relevo (particular, do peito), do chão
Na arte da profund-idade.

Quem é o verão sem o inesperado e torrencial?

Se respingas, dia a dia, marcam-me as gotas, protelando o futuro da próxima esquina.
Se afastas as nuvens, sou pó, só.
Se choves, por inteiro, serei eterno multicor.