segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Desejo diurno



No correr de 4 tempos, tanta história, tanto silêncio.
Esperança me resta de que botões brancos - vívidos, murchos e os que inda esboçam corpo de semente - perdoem a franca pausa na partitura de nossa cantiga (de eternidade).
Hoje quis que os céus tocassem a valsa favorita para que em teus braços, um porto, meu corpo dançasse junto ao seu, ao som dos palpites do coração.
Outra hora quis que os ventos trouxessem teu cheiro. Sim... Cada suspirar teria tua graça, en-canto, seu riso.
Ah, o riso... A cantiga silenciada que reverbera aos meus ouvidos, de memória, das contáveis tardes de doce ócio, onde o castanhar dos olhos teus se misturavam ao azul do céu em verão.
Que desejar ao teu coração (,) amado (,) amante?
Desejei toque, valsa, tom, gosto, dengo... Dos maiores sentimentos, resta-me o sentir calejado do entrelaçar dos dedos em compromisso, em proteção, em determinado (,) indeterminado na direção de outros desejos sobrepostos, intercalados, soberano's' - ao nosso. Assim.
[Nos leves sentidos, golpeou-me o tempo ao recordar duas despedidas.]
O coração, pedaços em cicatriznão desistiu do som daquela velha atual cantiga.





P.S.: Cada episódio se torna mais difícil de (d)escrever...

quarta-feira, 5 de março de 2014

Filosofias de chuva

Respingos na face multicor da flor distante,
Um afago nos cabelos infantes,
Cócegas na barba de um transeunte qualquer,
A confusão na superfície vítrea das lentes.

Dois segundos e o murmúrio do telhado compõe a sinfonia que embala os sonhos.
Os planos se molham e se desfazem na linha do tempo - ê, chuva.
(Des)monta,
(Des)mente,
(Des)faz.

Céu e terra a unir-se pelo sabor molhado das gotas frias,
As lágrimas das nuvens embebedam o chão quente, sedento, marcado.
A precipitação entalha o relevo (particular, do peito), do chão
Na arte da profund-idade.

Quem é o verão sem o inesperado e torrencial?

Se respingas, dia a dia, marcam-me as gotas, protelando o futuro da próxima esquina.
Se afastas as nuvens, sou pó, só.
Se choves, por inteiro, serei eterno multicor.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Acorde



Acorde, amor, que a vida é pouca e o tempo, curto, igual a saia de moça faceira.
Acorde (,) que dança e brinca, produto das cordas que vibram em tempo, tom, dom, o som que inunda o peito, que d(e)sperta memória em tons das mil cores de apaixonado.
Ah, memória que guarda, relembra o enlace, o laço, abraço, atraso dos dias que o calendário fez questão de marcar – como “ferro quente em carne fria” – para o eterno correr dos ponteiros da vida. Acorde-a, que a distância é oportuna, motivo para um convite ao baile, à dança, trança, valsa à noite inteira de (em) pensamento.
Acorde a cor do vento que soprou e hoje só recorde a sensação que ficou, delineando a pele no arrepio, do fim do fio ao findo pé (agora nas nuvens, e além das nuvens, flutuando).

Acorde, acorde, que o sono é ilusão.  Não há mais (des)culpa em sonhar acordado.