segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Desabafos

Carta

Depois de pouco mais de meia xícara de década e poucos dias de velinhas, escrevo, sem coragem estas pálidas linhas.
O peito, cheio de coisas a dizer e com tantas outra para escutar bate descompassadamente no desenrolar de cada palavra, não sei se por saudade ou dúvida de amar, de amor, que nem sei se bateu asas e voou.
Não sei explicar as certezas, tão superficiais e escorregadias como limo na superfície da razão tão maluca de dezessete idades. Como tudo deve ser, como deveria ser eu não sei, nem por que amor tão profundo pôde sublimar num segundo...
Para fugir, mesmo meio vazia busquei-me em outras metades só para sentir-me por inteiro, mas a poesia não deixa; ela escancara razões que não queria nem mais, que estavam lá no sótão, cobertas de poeira e algemadas por teias de aranha.
Explicar, não posso, continuar assim, terminar a carta, fazê-la entendida pelos leitores, dar fim à sina não posso. Mal resolvido(a)(os).
Resto eu, aqui, com os pedaços de coração lançado do 17º andar dentro dos bolsos. Só.


Desculpe. Esse texto começava diferente.
Era pra ser assim:
'Se o que sentes for tão grande para gotejar por este tempo, deixa-o gotejar por mais um pouco.
Gradativamente, vagarosamente os olhos são abertos e a (porcaria da) razão deixa passar pela pupila a luz e formar na retina a verdade. '
Tive medo de escrever o resto.
Era pra ser tudo diferente.
Culpa minha, eu acho.


P.S.: Desculpa aí, gente. Tinha que dizer isso, mesmo que estivesse afogado em metáforas tão claras. Breve algo mais racional.

sábado, 5 de dezembro de 2009

9:15, sábado

Nova. Tão nova.
Há pouco conheceu sua décima primavera.
Sorriso tímido, voz baixa, olhinhos cheios de esperança.
Já tão frágil, abraçou-me tão forte, como se fosse a última vez.
Cantamos, oramos, rimos, embora parecesse tão difícil tirar um sorriso de seus lábios, falamos de esperança...
De suas viagens e passagens perguntava-lhe quantas pessoas havia conhecido e quais experiências tinha a me contar.
Confesso, no começo era muito difícil para mim, mas depois fui iluminada a como lidar com sua timidez.
Quantas coisas planejamos! Seu aniversário de 10 aninhos, histórias, desenhos, o próximo bolo de anversário...
Embora já fosse tão familiar, escondia-me suas tristezas e preocupações. Eu entendia. Era só uma garotinha ainda.
Naquele dia, breve dia, fomos àquela casa, simples, humilde, e quase nos perdemos, pois não sabíamos nem em qual rua entrar. Cantamos, oramos e abraçou-me tão forte, como se fosse a última vez.
Prefiro ter na memória as nossas canções, desenhos, projetos, planos mirabolantes, orações, que os momentos que a via no leito, me escondendo a dor que brotava do peito, que fazia sua respiração ser mais fraca e as trocas gasosas talvez mais ineficazes.
Agradeço ao Pai por ter feito parte de sua vida, e por ter dito o quanto és (eras) especial para mim e para todos que zelavam por ela.
Em seu recanto cantamos, oramos e abraçou-me tão forte, como se fosse a última vez.
E foi a última vez.
Foi-se, na décima primavera.


P.S.: Aprouve a Deus levá-la. Escrito em lágrimas.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Desabafos

Caso

Ouvi um barulho.
Corri para a janela
para ver o que era.

Parei no segundo,
corria o mundo
e o medo profundo escorria dos olhos.

Desci as escadas,
surpresa na cara,
palavras manchadas por quentes lágrimas;

Aí eu parei
Imobilizei
E quase surtei
com a cena que vi:

Lá, a vida sem vida no chão,
mudo, sem pulsação,
meu pequeno coração.


P.S.: Eu tô aqui, viva. Mas foi real. Bem real.